17 de junho de 2012

O horrorshow de Kubrick





Ternos Alugados é o meu mais novo projeto, há algum tempo venho querendo colocar a minha paixão pela arte e pela cultura em um blog e finalmente, depois de tomar vergonha na cara, eu resolvi realizar esse meud desejo. Espero que você apreciem esse meu primeir texto, qualquer sugestão ou dúvida comente aqui ou me chame no twitter (@faketaleofsf). Esse texto contém spoilers importantes sobre o filme, se ainda não o assistiu sugiro que o faça e depois volte aqui para ler meu texto. Agora vá lá, leia essa resenha de uma vez!

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Laranja Mecânica é o segundo dos filmes de Kubrick que eu tive a oportunidade de assistir, mas tanto na história de Alex e seus drugues quanto em Lolita, já é possível notar algumas características de direção e roteiro do cineasta. Muitas delas são até hoje empregadas por diversos e renomados diretores que foram influenciados pela forma perfeccionista com que o Kubrick tratava seus filmes, dentre esses nomes temos desde Woody Allen e Martin Scorsese, passando por Matt Groening  (criador de Os Simpsons e Futurama) e Michale Moore, até Lars Von Trier e Gaspar Noé. Isso mostra o quão importante o diretor de filmes como 2001: Uma Odisséia no Espaço e O Iluminado foi para o cinema mundial, influenciando desde diretores tipicamente Hollywoodianos até diretores importantes do cinema europeu.

A genialidade de Stanley Kubrick está presente no filme como um todo, mas há alguns trechos em que o trabalho do diretor parece se destacar mais. Dentre essas cenas há algumas tomadas estáticas muito interessantes, algo que já existia em Lolita, como a em que Alex De Large ataca dois de seus Drugues que pareciam querer se rebelar contra ele, que se auto-proclamava o líder do grupo do qual fazia parte. Eu achei realmente genial a opção pela câmera lenta e a forma como, através da narração de Alex, fica bem claro o que ele pretende fazer naquele momento. É importante dizer em como essa tomada influenciou a cena de abertura de Cães de Aluguel (que como vocês devem ter percebido pelo meu fascínio por ternos , é um dos meus filmes favoritos).

Outra cena que Kubrick realiza magnificamente é a em que Alex conhece duas belas moças em uma loja de discos e as leva para sua casa, para ouvir um pouco de Ludwig van e praticar um pouco do velho entra e sai. A forma como a música de Beethoven se funde a tomada acelerada, num belo trabalho de edição de Bill Butler, é algo realmente excitante. E é interessante perceber como o diretor faz de tudo para mostrar o grande anti-herói que Alex De Large.

Outro lado do trabalho do diretor nova-iorquino que podemos destacar no filme é o roteiro, mantendo algumas características interessantes do livro do qual foi baseado, como o dialeto falado pelo protagonista e seus drugues. Nele nós vemos toda a ironia presente em vários outros roteiros escritos por Kubrick. Ironia, esta, que está especialmente bem colocada em cenas como a em que Alex chega a penitenciária e precisa ter sua ficha preenchida na prisão. Nesta cena vemos também um grande trabalho de atuação por parte tanto de Malcom McDowell, como o protagonista, quanto Michael Bates, interpretando a caricatura muito bem feita da polícia inglesa, Great Chief.

Há outro trecho em que o roteiro e a atuação se fundiram para criar outra cena memorável, ela acontece na sala de jantar da casa dos Alexander, que em certo momento do filme fora o palco da cena mais controversa do filme onde Alex e seus drugues abusam sexualmente da sra. Alexander. Agora, Alex jantava calmamente por lá, tendo sido hospedado por Frank Alexander, um escritor subversivo e fracassado. Em determinado momento, o escritor serve uma taça de vinho ao protagonista, ele sabendo da situação em que se encontra passa por uma das situações mais comicamente tensas do cinema, onde ele tenta de várias formas se afugentar daquele líquido.


Nessa cena vemos um ótimo Patrick McGee que aqui interpreta, em poucas cenas infelizmente, o melhor papel de sua curta carreira. Mas quem chama realmente a atenção é Malcom McDowell, que faz de seu Alex um dos personagens mais interessantes da história do cinema. Por mais que nunca tenha feito mais nada de realmente interessante depois de Laranja Mecânica, o ator ao menos sabe que nunca será relegado ao desconhecido. Isso porque seu Alex passa ao espectador todas as emoções necessárias, desde a excitação na cena em que faz parte da flagelação de Jesus, até o desespero quando se encontra preso a cadeira submetido à técnica Ludovico.

Alex é sem dúvida um dos anti-heróis mais carismáticos, por mais que tenha escolhido ser um vândalo criminoso apenas pelo prazer que a ultraviolência o proporcionava. Não há como explicar a simpatia do personagem criado por Burgess e passado tão incrivelmente por Kubrick e McDowell à tela. Afinal, ele pode ser considerado um dos piores tipos de ser humano, enérgico, sádico, explosivo e dono de uma inteligência avantajada.

O filme, portanto, não poderia ter sido finalizado de outra maneira. Depois de violentar e ser violentado, Alex acaba se dando bem se tornando mais um funcionário do governo sem dever algum, estando ali apenas para participar de mais uma das artimanhas políticas. São poucos os exemplos de uma representatividade política tão enérgica e uma história tão excitante como essa juntos em um só filme e talvez por isso essa obra-prima de Stanley Kubrick seja tão incrível e até hoje exerça influência na nossa sociedade. Só uma pena que muitos pensem que o que se deve fazer é imitar os personagens cínicos do filme e não tê-los como maus exemplos.

Nota: 10 (Obra-Prima)

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